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Prometa-me que serás livre!

pais-filhos (47)

*Inspirado no poema de Charles Chaplin

A liberdade verdadeira é um ato genuinamente interior, como a verdadeira solidão. Eu tenho aprendido a sentir-me livre ate mesmo quando estou preso a algo. Temos que aprender a sentir-nos livres até numa prisão, e a estar sozinhos até no meio da multidão.

A liberdade para mim é o fruto de uma conquista que fiz ao cultivar minha inteligência, elevando minha moral e estendendo-me a culturas por todos os lugares do mundo que passei. Por muito tempo me deixei enganar por uma cultura que limita, julga e condena e em consequência disso, limitei me aquilo que me diziam. Julguei, odiei e condenei a mim mesmo por ser quem sou. Hoje o conceito de liberdade que vivo está completamente vinculado à capacidade de amar profundamente a mim mesmo e deixar que Deus me ame com seu amor libertador.

No dia que me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E então, pude relaxar e deixar cair todas as máscaras. Hoje sei que isso tem nome chama-se autoestima. Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades. E hoje vivo livremente minha autenticidade. Deixei de viver a sombra de juízes que me ditavam o que fazer, como falar, pensar ou me comportar. Quando me amei com verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Deixei de me comparar. Deixei de dar poder a autodestruição e percebi que amadureci.

 Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou maneira de pensar a alguém, apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo. Tenho que respeitar as opiniões diversas, ouvir mais e aceitar os outros a minha volta, mesmo que eles não pensem como eu penso. Aprendi a viver o respeito. É fácil falar de respeito, difícil é vivê-lo quando nos deparamos com alguém que não vive, ou pensa como nós. Quando me dei conta que estava me amando de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável… Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. Outros me rotularam como egoísta, minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Mais hoje chamo de amor-próprio.

Amando-me de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos gigantescos e complexos para o futuro. Hoje faço o que o meu coração acha certo, aquilo que gosto e no meu próprio ritmo. Traduzo isso como simplicidade. Vivendo Passo-a-passo eu desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes. Vivo a humildade de forma mais completa! Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Vivo o momento presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez em plenitude. Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.

Quando entendi tudo isso. Percebi que Deus me amava realmente. Que me chama a ser feliz e livre. Foi entendendo que seu amor por mim vai além das minha limitações humanas, medos e tudo que me afasta para que eu seja livre. Eu sou mais feliz quando abraço aquele que realmente sou e deixo de lado o meu eu idealizado, mais sem deixar de lado o desejo de ser melhor a cada dia. Mais pra que tudo isso aconteça, Deus precisou se inclinar a mim e me pedir ama-te a ti mesmo e prometa-me que serás livre!


Conflito, fuga e busca!

O desejo por felicidade e vida plena é algo que ninguém pode nos roubar. Quando decidi seguir o que tenho dentro de mim, decidi por ser feliz. Decidi por buscar aquilo que me trás mais próximo de quem eu realmente sou.

Fui educado de uma certa maneira onde é “regra e ordem” fazer o outro feliz e depois… ai sim… tenho  o direito de pensar em mim mesmo. Sempre tive medo de seguir meus sonhos. Porque? Por medo de ser tachado como egoísta e egocêntrico. Fui nascido e criado numa cultura Cristocêntrica onde temos Cristo como centro. Onde consideramos Cristo como o centro da história do universo e nossas vidas. Sou eternamente grato por isso e sou feliz por hoje entender isso de uma forma mais saudável e feliz.

Para mim a esperança é o que faz com que encaremos a vida, mesmo que tenhamos dificuldade. Acredito que é preciso ser forte e lutar pelo que somos e sonhamos. O que acontece muito frequentemente é que nós queremos as realizações, mas não queremos o compromisso da esperança.

Quando olhamos para o céu com esperança encontramos a coragem de balancear quem somos, para onde vamos e o que queremos. Sempre que escrevo, falo de quem sou e o que quero… mais percebi que evito falar de “para onde vou”  ou “para onde quero ir”, com medo de ser julgado. Como se a minha incerteza fosse ser punida. Mais a pergunta é: “Quem tem o direito de julgar as minhas incertezas e indecisões?” Percebo que muitos de nós temos medo de refletir, discernir e pensar por receio de saborear o tempo da reflexão pois temos pânico do que os outros vão pensar, ou até mesmo, pelo temor de ser mais uma vez acusados de inconsistência, indecisão  e inconstância.

Seria impossível contar as vezes que me perguntam… a vida que você vive hoje é fuga, não é?

Minha resposta seria: _ Fujo sim, fujo de pessoas como você!  Mais fui criado para ser melhor do que isso e sempre que posso tento evitar esse tipo de resposta (risos).

E porque não poderia estar vivendo uma busca? Porque fuga? Acredito que vivo uma busca. Uma busca insaciável por felicidade e realização. A palavra fuga é muito mais atraente na boca de muitos do que a palavra busca. Muita gente fala sem saborear e conhecer as palavras que usam para falar.

Um dia ouvi alguém dizer que “a alegria vai embora da nossa vida porque nos falta o compromisso com a esperança.” Eu refleti com essas palavras por muito tempo e acredito que não podemos abrir mão daquilo que somente nós podemos fazer. Sabe coisas que só você pode fazer? Exato… lutar pela busca da minha própria felicidade é algo que somente EU posso fazer.  Cristianismo é lutar todos dias para que a esperança seja verdadeira. Cristianismo é luta, é aprender a lidar consigo mesmo e não fugir de quem eu sou mais sim amar, aceitar e lidar com quem eu sou.

 

Sempre acreditei que a forca da nossa esperança passa pelos nossos amigos. A unidade e santidade só é possível na comunhão e união. Quero cada dia mais ter a capacidade de trazer para minha vida aquelas pessoas que me ajudam a trazer de pé a minha esperança e também quero ter a coragem de me desligar daqueles que ao invés de sonhar comigo querem sonhar para mim.

Pessoas  que querem sonhar para mim ao invés de sonhar comigo me colocam em conflito. E conflito é uma palavra ou um lugar por onde estive por anos e hoje abraço com paz o que sou e de quem eu sou.

Depois de anos de luta hoje me vejo mais feliz e com uma esperança renovada pois aprendi que para estar em paz comigo mesmo significa aceitar-me do jeito que sou, com minhas fraquezas e imperfeições. Pois somente desta forma deixo que o perfeito mude, cure e transforme as imperfeições que existem em mim. Em outras palavras, deixo Deus ser Deus e logo sou muito mais feliz.  

 

Entendi também que para reduzir a divisão que foi criada dentro de mim pela imagem do que eu gostaria de ser e quem eu realmente sou, eu preciso ser paciente comigo mesmo, especialmente no que diz respeito aos conflitos com o meu eu idealizado.  E sou mais feliz quando abraço aquele que realmente sou e deixo de lado o meu eu idealizado, mais sem deixar de lado o desejo de ser melhor a cada dia. 


A Gaiola

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A vida tem passado e junto com ela tem passado tudo aquilo que sonhei. Abri a gaiola dos meus sonhos e com liberdade, deixei tudo que eu aprisionava ir embora. Libertar  tudo o que eu pensava que possuía dói, mais ao mesmo tempo cura.  Não sei se tenho dado os passos certos mais sei que estou feliz com os passos dados até agora.

“Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança, desde que me tornei homem…” (1Cor 13 11) ainda não  eliminei as coisas de criança. Me entristece olhar para trás e ver que pouco cresci comparado ao quanto sonhava em crescer e amadurecer. Ainda sinto as tristezas de criança, as dores de crianças e a solidão de criança. Quase um abandono marcado por essa criancice que parece não me abandonar.

Uma luta contra aquilo que sou e quero ser, continua aqui dentro. Claro que devo reconhecer que hoje sou diferente. Vivo uma luta acompanhada. Uma luta mais madura e completamente diferente da que vivia quando eu era criança. Tenho saudades do ser criança e medo de não ser o adulto que imaginei. Parece que já é tarde pra querer crescer…. porém o velho cliché da vida nos diz que “nunca é tarde pra sonhar”.

Detesto os velhos clichês. Detesto-os pois eles sempre revelam parte da verdade que não queremos encarar. E esse me diz que devo seguir sonhando. Mudando. Transformando. Mudando quem sou e transformando o que sonho.

Mais assim vou eu nessa luta desesperada de me encontrar mais uma vez e me permitir sonhar mais uma vez. Aceitando minhas falhas, vencendo minhas culpas, curando as minhas dores e amando os amores que aprisionei e assim esquecendo os medos que tive de me deixar amar e ser feliz de vez.


Walking in this Joyful Season

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For those who are not Christian, Lent can be a bit of a mystery. For some other people, Lent is a period of going on a diet to lose some pounds. For others, it is when their weird Catholic co-workers and friends show up to work and school with ashes on their foreheads, when fast food restaurants start selling fish sandwiches. Listening to the prayers in the Liturgy, we clearly see the liturgical prayers referring to this time of Lent as a joyful season. How is Lent a Joyful Season? I am accustomed to hearing that Lent is a season of soul-searching and repentance. My family taught me that it is a period for reflection, self-denial, spiritual growth, penitence, conversion, and simplicity.

Last year, I heard liturgical prayers during mass that said: “Lord, each year You give us this joyful season.”  I started to think to myself: How is Lent joyful? Is this a joke? Lent was passing by and I could not see any joy about fasting, abstinence, and all those things that we usually do during Lent. I was struggling to understand and live the Lenten Season in its fullness.

“This season of grace is your gift to your family to renew us in Spirit.” Hearing this liturgical prayer, I did not really know how, but all things inside of my head started to make sense.   I suddenly realized that the joy Lent brings is a true joy, purifying and renewing our lives and souls. During Mass I heard: “Lord, You give us strength to purify our hearts.” Do I have this desire for purification? I saw that I did not really have it, but I knew that with all my questions and reflection, I was slowly entering into a spiritual journey of forty days with the Lord.

Concretely, in what way does this renewal of the Spirit work? I found myself, during those forty days, growing in freedom and love while purifying my heart and desires, so as to serve the Lord in freedom. A week and a half later, I realized that we are often unaware of our attachments, and we are not completely free.  By giving up things during Lent, we discover our attachments and can become free of them. I realized that freedom is not the goal in itself; it can be a temptation to pride. Freedom is only the condition that makes us able to love.

The question is, “What is my heart attached to?”  The goal is to attach ourselves to God alone. “Through our observance of Lent, we raise our minds to the Lord.” If we choose to fast and renounce earthly pleasures, we choose to say to the Lord, “You are my only joy.” And we finally come to give up earthly joy to experience the joy of the Lord.

Jesus spent forty days into the desert, and during this Lent He is inviting us to be in the desert with Him. It is in the desert we encounter the Lord. In the emptiness of every joy, the Lord can be our only joy. Lent always led renunciation so I may be alone with the Lord to experience His Love. His love is all that fills me. If we really live Lent, we will experience more of the Lord.

Renunciation diminishes our selfishness and opens our hearts to the poor. God’s mercy urges us to share our bread and the love that we receive from Jesus Christ with the poor. If I am free from myself, I am more able to give myself to the others. The renunciation allows me the inner-freedom to pray. Fasting becomes an amplifier of prayer and charity.

The time of Lent is a time of conversion. By fasting, Jesus conquered sin and gave us the strength and will to grow in holiness. During Lent, I decided that I would drink water in order to drink wisdom and would eat with limits in order to love without limits. The renewal that can occur in us during Lent is not our work, it is the work of the Lord.  Our task is to desire this renewal.  If the Lord sees our little efforts in fasting and renouncement, He will bless them and multiply them.

I love to think about St. Therese of Lisieux, who is  the Little Flower of Jesus. She believed she could not climb the stairs to holiness so she asked God to carry her up. If the Lord sees that there is a true desire in our hearts, He will renew us in abundance. Being honest with myself and with God is one of my goals in life. This Lenten time will help myself to integrate who I am and what I believe in and will finally lead me to holiness and perfect joy, not only during this season, but a joy that will last forever.


O caminho da Santidade: 1° – Se deixar amar

A experiência da cruz tem me feito crescer em pontos que eu sabia que ainda não tinha crescido. Essa vivencia não é nada mais nada menos que o mistério da paixão que ainda continua um escândalo para muito de nós. É sobretudo uma revelação do amor divino, um amor que sofre e temos o privilégio de compartilhar.

Deus ama a cada um de seus filhos com misericórdia e respeita a sua liberdade. Ele espera que nos apaixonemos por Ele, assim como Ele é apaixonado por nós. Nessa espera dolorosa, Deus é paciente e  nunca se cansa de se inclinar a nós e nos resgatar mais uma vez.

Penso que para entender esse amor poderíamos olhar mais uma vez para a parábola do filho pródigo (Lc 15,11ss) que você provavelmente já ouviu ou leu dezenas de vezes.

É curioso que Jesus associe o amor incondicional de Deus à figura do pai. Não seria melhor uma mãe? Não é ela que geralmente está associada à saudade, a braços abertos e ao perdão? Jesus provoca e quer desinstalar as idéias que se têm de paternidade e de Deus.

A parábola ensina uma nova imagem de Deus. A experiência de fé de Jesus permitiu que Ele chamasse Deus de Pai, tirando de Deus aquele ar severo e distante. Pode-se até dizer que o cristianismo nasce dessa experiência de poder chamar Deus de Pai. O Deus de Jesus e dos cristãos é um pai amoroso; que disciplina, mas ama o perdão.

Mas se observamos um detalhe especial nessa passagem, podemos ver que esse pai não esperava apenas a volta do filho mais novo. Ele queria também que o filho mais velho compartilhasse com Ele nessa dolorosa espera. Ele contava com o filho, pois esse sempre teve lugar em seu coração.

Assim também é Deus. Ele quer compartilhar conosco a sua espera, quer que estejamos junto a Ele na espera dos irmãos mais novos. O grande porém é que normalmente, nos encaixamos na figura do irmão mais velho, que tem profunda inveja do irmão mais novo, que passou por um bom tempo, esbanjando e gastando a fortuna da família e mesmo assim não perde a atenção e amor do pai. Quando vemos a reação do Pai com relação ao irmão mais novo, sentimos inveja, ciúmes, raiva e muito mais. Esquecemos que a atitude do mais velho também machuca o coração do pai. O pai contava com ele o apoiando e ajudando no preparo de tudo, para volta daquele se afastou. Mas ele olha apenas pra si!

O nosso grande problema é que pensamos que temos as resposta pra tudo. Queremos ditar as ordens pro Pai. Queremos que Ele escute as nossas idéias pois pensamos que sabemos o melhor  pra nós, mas felizmente temos a graça de poder confiar que Ele tudo fará por nós e para nossa completa felicidade!

O convite hoje é se deixar ir mais além. Se abandonar nesse encontro entre o pai e o filho mais velho! Ele quer que sejamos assim, simples. Entregar todos os  conceitos e apegos que exista em nós, para que assim, completamente entregues e confiantes ele possa nos vestir com a melhor túnica e, por um anel no nosso dedo e sandálias em nossos pés. Matar um novilho cevado e juntos comer e festejar, pois este  filho que estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi reencontrado, pois Seu amor é incomparável e quando tivermos a coragem de deixar Ele nós amar profundamente ficaremos surpreso com a mudança que nossa vida terá.


Maltrapilho


MALTRAPILHO
Maninho/Bruno Camurati

Paro por aqui
Não posso passar pela porta dos perfeitos
Proíbem meu jeito, defeito não é bem aceito aqui
Acesso negado

Quero te seguir
Será que me deixam aproximar de ti?
Tocar no teu manto, comer nesta mesa, beijar teus pés
Sentir o amor que não tem ressalvas
Que salva o que é meu
Que me chama a estar contigo

E assim posso esperar
que seja aquela mesma esquina
ou mesmo do lado de fora
ninguém merecerá
mas tua graça me conforta
que deixa ao fim Te alcançar


Spread your Joy!


A misericórdia é porta do céu!

Um dos grandes desafios do ser humano é poder encontrar a felicidade nas coisas simples da vida. Complicamos aquilo que é simples. Transformamos o fácil em complexo. As vezes chego a pensar que faço isso de propósito.

Um velho amigo costumava me dizer que “A vaca come capim porque gosta.” Demorei cerca de dias para, literalmente, ruminar o sentido dessa frase na minha vida. Percebi que essa frase fala de liberdade, de escolha. Quantas vezes o meu comportamento é como o da vaca? Quantas vezes vivo ali moendo e remoendo aquele velho capim da minha vida. Quanto tempo tenho gastado pensado no que é infértil e improdutivo. Mastigo ponho pra fora e como novamente. Escolho viver assim. Chega a ser repugnante mas é o que muitos de nós fazemos com as situações nas nossas vidas. Escolhemos viver remoendo nossas falhas, fraquezas e defeitos. Parece que nos dá prazer a auto-piedade, a auto compaixão e sentir pena de nós próprios. Chamo isso de carência. Portanto é ai que mora o grande perigo. Como controlamos e onde curamos nossas carências e ausências?

Não digo isso, porque tenho a solução ou a resposta mas porque essa também é a minha luta! Dia e noite, procuro por esse amor que preenche e completa. Já o encontrei muitas vezes no caminho. Mas as minha distrações e deslizes  me fizeram perde-lo de vista. Quando tornei a olhar eu já estava longe, já tinha caminhado mais uma vez sozinho na direção oposta desse amor. O responsável por tudo isso sou eu mesmo, não digo isso com peso e culpa, mas com ciência de que sou humano, frágil e fraco. Não é fácil ser humano. Não é fácil viver essa humanidade limitada. Pois trazemos dentro de nós a semente desse amor que quer nos conduzir a perfeição porém  a nossa limitada humanidade nos arrasta no sentido oposto ou não nos permite avançar.

Uma inacabável luta entre o perfeito e o imperfeito. Entre o eterno e o mortal. Quando entendi que esse sou eu, tudo se acalmou. Sentia o aroma da paz e da serenidade aqui dentro. Um sentimento único! Equilíbrio! O centro!

Aceitar-se como ser humano frágil e limitado é o primeiro passo que me leva a descobrir quem sou. Pois quando eu reconheço as minha fragilidades é porque eu comecei a encará-las. Tenho aprendido que o meu crescimento interior depende da minha capacidade de amar. Quanto mais amo mais cresço. Quem ama mais, vive mais. Quanto mais amo, mais sou feliz. Quanto mais luto pelo meu auto-conhecimento mais descubro quem eu sou e assim me aceito humano e capaz de amar. Quase um paradoxo!

É ai nesse exato ponto que entra “Dona felicidade…” Gosto muito de falar sobre ela. Quanto eu era criança imaginava que a felicidade era uma senhora rechonchuda que morava na ultima casa da rua. Ela estava sempre a cozinhar doces e bolos que feitos por suas mãos gorduchas enchiam os nossos olhos. Eles eram mais macios que o pão quentinho da minha padaria preferida.  Dona Felicidade sempre que fazia suas guloseimas fazia com que todas as crianças da rua sentissem o cheiro suave e açucarado das suas delicias que eram capazes de levar-nos a ficar quietos cerca de cinco minutos à sentir o cheiro dos seus deliciosos quitutes. Lá vinha ela, vestida de branco, com seu avental em tons de vermelho e amarelo que nos estimulava o apetite ainda mais. Seus cabelos presos como um rabo-de-cavalo e na ponta dobrava-o para dentro, sua face gorda e rosada, franzia seus olhos pequenos contra os óculos que passava a maior parte do tempo coberto de uma fina camada de farinha proveniente das sua rapidez e destreza ao preparar os doces. O segredo de Dona Felicidade nunca nos foi revelado. Mas os mais espertos sentavam-se a beira da calçada a espera que ela voltasse das compras para ver por entre as tranças de seu cesto de compras feito de palha rústica, o que Dona Felicidade traria para casa.

Hoje descobri qual é o segredo de Dona Felicidade! Ela vivia pra isso! Ela sabia o que a fazia feliz. A alegria de dona felicidade era ver que aquilo ela fazia era bom! Ela encontrou o que trazia alegria ao seu coração. Pronto! Esse era o segredo. Ela gostava, tinha prazer de mexer a massa, por o açúcar, o fermento, o leite! Seus olhos brilhavam ao ver a química dos ingredientes reagirem. Seu rosto feliz pelo espelho do forno, que calmamente fazia crescer o bolo encantava quem estava perto! Ela sabia o que estava fazendo e era feliz assim!

Agora vem a pergunta que tem ecoado aqui dentro de mim e talvez essa seja a mesma pergunta que grita ai dentro de você: O que te faz feliz? Onde está a sua felicidade? Já ouvi muitos falar que buscamos a nossa felicidade onde ela não está! Mas refletindo de forma bem humana, quem quer ser infeliz? Quem quer cometer erros? Quem quer ficar dando voltas na própria vida e nunca sair do mesmo lugar? Acho que ninguém! Confesso que esse tipo de resposta que ouço por ai irrita o domesticado que tenho aqui dentro! Acho que tenho tentado! Todos nós temos tentado! Tentamos acertar! O problema é que tentamos acertar sozinho! Acho que ai é que está nossa falha! Somo filhos amados de Deus e tenho certeza que como um Pai que ama, Ele nos quer feliz, quer nós estender a mão e ficar conosco!

Não vejo problema em errar, cometer falhas e fracassos. Adão errou, Abraão fracassou, qual o problema nisso? Oh Feliz culpa de Adão que permitiu que a salvação chegasse até nós!

Precisamos crescer no amor para sermos imagem e semelhança de Deus. E amar exige liberdade! Precisamos crescer com responsabilidade e para isso, precisamos da oportunidade de poder nos equivocar e aprender com os nossos erros. Mas para isso é preciso humildade. Ser simples!

A experiência do fracasso é um frutuosa purificação para nós! O caminho de santidade surge quando tomamos consciência das nossas próprias misérias! Sabe qual é a grande diferença entre  os apóstolos de Jesus e Judas? Bom, sejamos ainda mais específicos, sabe qual a diferença entre Pedro e Judas? Os dois traíram Jesus, não é que um ou outro tenha cometido um pecado maior, mas que Pedro recorreu a misericórdia e Judas não! Ele não se atreveu a voltar e apresentar-se diante de Deus. Ele não podia justificar o que ele fez, não encontrou desculpa suficiente que justificasse o seu pecado. Ele se arrepende e tenta reparar seu erro, mas o maior erro foi que ele não se abandona ao Amor misericordioso do Pai. A nossa vaidade não nos deixa voltar. Não somos humildes o suficiente pra isso! Então preferimos morrer a voltar de cabeça baixa. Sempre penso na figura de Deus como médico e juiz. Mas hoje tenho a certeza que ele se assemelha mais a figura do médico! Quando erramos, transgredimos a lei, e ficamos destrocados como pessoas, e isso nos afasta de Deus. Temos o remédio em nossas mãos mas resistimos insistentemente a tomá-lo. Somos aquele tipo de paciente que  demora se curar porque não segue o tratamento. Esquecemos que nossa rebeldia pode nos levar a morte!

A misericórdia é porta do céu! O que para nós é miséria, para Deus é uma grande oportunidade de demonstrar o quanto nos ama. Cada erro que cometemos é um pretexto que ele arruma para nos abraçar e nos arrastar para o céu pela força do seu amor misericordioso! O convite hoje é não dar ouvidos a culpa! A culpabilidade nos leva e rejeitar a misericórdia e assim sendo não mudarmos, não crescemos não avançamos em direção a nossa felicidade! Ficamos parado no mesmo lugar. Não complique aquilo que é simples! Tome o remédio! Aceite o abraço! Falo isso pra mim mesmo pois sei que a única coisa que pode me separar de Deus é viver no engano e não reconhecer minha própria impotência. Esse é o meu pecado! A única coisa que pode me aproximar de Deus é a sua Misericórdia. Nada mais!


MENSAGEM URBI ET ORBI DO SANTO PADRE BENTO XVI


PÁSCOA 2010

Queridos irmãos e irmãs!

Transmito-vos o anúncio da Páscoa com estas palavras da Liturgia, que repercutem o antiquíssimo hino de louvor dos hebreus depois da travessia do Mar Vermelho. Conta o Livro do Éxodo (cf. 15, 19-21) que, depois de atravessarem o mar enxuto e terem visto os egípcios submersos pelas águas, Miriam – a irmã de Moisés e Aarão – e as outras mulheres entoaram, dançando, este cântico de exultação: «Cantai ao Senhor que Se revestiu de glória. Precipitou no mar o cavalo e o cavaleiro!» Por todo o mundo, os cristãos repetem este cântico na Vigília Pascal, cujo significado é depois explicado na respectiva oração; uma oração que agora, na plena luz da Ressurreição, jubilosamente fazemos nossa: «Também em nossos dias, Senhor, vemos brilhar as vossas antigas maravilhas: se outrora manifestastes o vosso poder libertando um só povo da perseguição do Faraó, hoje assegurais a salvação de todas as nações fazendo-as renascer pela água do Baptismo: fazei que todos os povos da terra se tornem filhos de Abraão e membros do vosso povo eleito».

O Evangelho revelou-nos o cumprimento das figuras antigas: com a sua morte e ressurreição, Jesus Cristo libertou o homem da escravidão radical, a do pecado, e abriu-lhe a estrada para a verdadeira Terra Prometida, o Reino de Deus, Reino universal de justiça, de amor e de paz. Este «êxodo» verifica-se, antes de mais nada, no íntimo do próprio homem e consiste num novo nascimento no Espírito Santo, efeito do Baptismo que Cristo nos deu precisamente no mistério pascal. O homem velho cede o lugar ao homem novo; a vida anterior é deixada para trás, pode-se caminhar numa vida nova (cf. Rm 6, 4). Mas o «êxodo» espiritual é princípio duma libertação integral, capaz de renovar toda a dimensão humana, pessoal e social.

Sim, irmãos, a Páscoa é a verdadeira salvação da humanidade! Se Cristo – o Cordeiro de Deus – não tivesse derramado o seu Sangue por nós, não teríamos qualquer esperança, o destino nosso e do mundo inteiro seria inevitavelmente a morte. Mas a Páscoa inverteu a tendência: a Ressurreição de Cristo é uma nova criação, como um enxerto que pode regenerar toda a planta. É um acontecimento que modificou a orientação profunda da história, fazendo-a pender de uma vez por todas para o lado do bem, da vida, do perdão. Somos livres, estamos salvos! Eis o motivo por que exultamos do íntimo do coração: «Cantemos ao Senhor: é verdadeiramente glorioso!»

O povo cristão, saído das águas do Baptismo, é enviado por todo o mundo a testemunhar esta salvação, a levar a todos o fruto da Páscoa, que consiste numa vida nova, liberta do pecado e restituída à sua beleza original, à sua bondade e verdade. Continuamente, ao longo de dois mil anos, os cristãos – especialmente os santos – fecundaram a história com a experiência viva da Páscoa. A Igreja é o povo do êxodo, porque vive constantemente o mistério pascal e espalha a sua força renovadora em todo o tempo e lugar. Também em nossos dias a humanidade tem necessidade de um «êxodo», não de ajustamentos superficiais, mas de uma conversão espiritual e moral. Necessita da salvação do Evangelho, para sair de uma crise que é profunda e, como tal, requer mudanças profundas, a partir das consciências.

Peço ao Senhor Jesus que, no Médio Oriente e de modo particular na Terra santificada pela sua morte e ressurreição, os Povos realizem um verdadeiro e definitivo «êxodo» da guerra e da violência para a paz e a concórdia. Às comunidades cristãs que conhecem provações e sofrimentos, especialmente no Iraque, repita o Ressuscitado a frase cheia de consolação e encorajamento que dirigiu aos Apóstolos no Cenáculo: «A paz esteja convosco!» (Jo 20,21).

Para os países da América Latina e do Caribe que experimentam uma perigosa recrudescência de crimes ligados ao narcotráfico, a Páscoa de Cristo conceda a vitória da convivência pacífica e do respeito pelo bem comum. A dilecta população do Haiti, devastado pela enorme tragédia do terremoto, realize o seu «êxodo» do luto e do desânimo para uma nova esperança, com o apoio da solidariedade internacional. Os amados cidadãos chilenos, prostrados por outra grave catástrofe mas sustentados pela fé, enfrentem com tenacidade a obra de reconstrução.

Na força de Jesus ressuscitado, ponha-se fim em África aos conflitos que continuam a provocar destruição e sofrimentos e chegue-se àquela paz e reconciliação que são garantias de desenvolvimento. De modo particular confio ao Senhor o futuro da República Democrática do Congo, da Guiné e da Nigéria.

O Ressuscitado ampare os cristãos que, pela sua fé, sofrem a perseguição e até a morte, como no Paquistão. Aos países assolados pelo terrorismo e pelas discriminações sociais ou religiosas, conceda Ele a força de começar percursos de diálogo e serena convivência. Aos responsáveis de todas as Nações, a Páscoa de Cristo traga luz e força para que a actividade económica e financeira seja finalmente orientada segundo critérios de verdade, justiça e ajuda fraterna. A força salvífica da ressurreição de Cristo invada a humanidade inteira, para que esta supere as múltiplas e trágicas expressões de uma «cultura de morte» que tende a difundir-se, para edificar um futuro de amor e verdade no qual toda a vida humana seja respeitada e acolhida.

Queridos irmãos e irmãs! A Páscoa não efectua qualquer magia. Assim como, para além do Mar Vermelho, os hebreus encontraram o deserto, assim também a Igreja, depois da Ressurreição, encontra sempre a história com as suas alegrias e as suas esperanças, os seus sofrimentos e as suas angústias. E todavia esta história mudou, está marcada por uma aliança nova e eterna, está realmente aberta ao futuro. Por isso, salvos na esperança, prosseguimos a nossa peregrinação, levando no coração o cântico antigo e sempre novo: «Cantemos ao Senhor: é verdadeiramente glorioso!»


PALAVRAS DO PAPA BENTO XVI


Monte Palatino
Sexta-feira Santa, 2 de Abril de 2010

Amados irmãos e irmãs,

Em oração, com o ânimo recolhido e comovido, percorremos nesta noite o caminho da Cruz. Subimos com Jesus ao Calvário e meditamos o seu sofrimento, tornando a descobrir como é profundo o amor que Ele teve e tem por nós. Mas, neste momento, não queremos limitar-nos a uma compaixão simplesmente ditada pelo nosso sentimento frágil; queremos antes de tudo sentir-nos participantes do sofrimento de Jesus, queremos acompanhar o nosso mestre compartilhando a sua Paixão na nossa vida, na vida da Igreja, pela vida do mundo; porque sabemos que é justamente na Cruz do Senhor, no amor sem limites que doa totalmente a si mesmo, que está a fonte da graça, da libertação, da paz, da salvação.

Os textos, as meditações e as orações da Via Sacra nos ajudaram a contemplar este mistério da Paixão a fim de aprender a imensa lição de amor que Deus nos deu na Cruz, para que nasça em nós um renovado desejo de converter o nosso coração, vivendo a cada dia no amor, a única força capaz de mudar o mundo.

Nesta noite, contemplamos Jesus com seu rosto cheio de dor, escarnecido, ultrajado, desfigurado pelo pecado do homem; amanhã de noite, o contemplaremos com sua face cheia de alegria, radiante e luminosa. Desde que Jesus desceu ao sepulcro, a tumba e a morte não são mais lugares sem esperança, onde a história se fecha no fracasso mais absoluto, onde o homem toca o limite extremo da sua impotência. A Sexta-feira Santa é o dia da esperança que é maior; aquela que amadureceu na Cruz enquanto Jesus exalava o último suspiro, gritando com grande voz: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46). Entregando a sua existência “doada” nas mãos do Pai, Ele sabe que a sua morte torna-se fonte de vida, como a semente na terra que deve romper-se para que a planta possa nascer: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto” (Jo 12, 24). Jesus é o grão de trigo que cai na terra, despedaça-se, rompe-se, morre e por isso pode produzir fruto. Desde o dia em que Cristo foi alçado, a Cruz, que se apresenta como o sinal do abandono, da solidão, do fracasso, tornou-se um novo começo: da profundidade da morte, eleva-se a promessa da vida eterna. Na Cruz, já brilha o esplendor vitorioso da alvorada do dia de Páscoa.

No silêncio desta noite, no silêncio que envolve o Sábado Santo, tocados pelo amor de Deus sem limites, vivemos à espera da alvorada do terceiro dia, a alvorada da vitória do Amor de Deus, da alvorada da luz que permite aos olhos do coração ver de um modo novo a vida, as dificuldades, o sofrimento. Os nossos fracassos, as nossas desilusões, as nossas amarguras, que pareciam indicar a ruína de tudo, são iluminados pela esperança. O ato de amor da Cruz é confirmado pelo Pai e a luz fulgente da Ressurreição tudo envolve e transforma: da traição pode nascer a amizade; da negação, o perdão; do ódio, o amor.

Concedei-nos, Senhor, carregar com amor a nossa cruz, as nossas cruzes diárias, na certeza de que estas são iluminadas do fulgor da vossa Páscoa. Amém.