Arquivo do mês: novembro 2009

Bendito o silêncio que me forma!

Deserto

Escutavam-me, esperavam, recolhiam em silêncio meu conselho.” (Jó 29, 21)

Bendito seja o silencio que me aproxima de quem eu sou. Aprende com o silêncio a ouvir os sons interiores da tua alma. A ver-se mais de perto. Aprende com o silêncio a ser humilde deixando o orgulho gritar lá fora, sem as reclamações vazias e sem sentido. Aprende com o silêncio a reparar nas coisas mais simples, valorizar o que é belo, ouvir o que faz algum sentido. O mundo já tem muito barulho, viva o seu próprio som. Aprende com o silêncio que a solidão não é castigo, mas a chave que abre a porta de acesso ao sagrado.

Aprende com o silêncio que a vida é boa, que nós só precisamos olhar para o lado certo. Aprende com o silêncio que tudo tem um ciclo, como as marés que insistem em ir e voltar, os pássaros que migram e voltam ao mesmo lugar. Aprende com o silêncio a respeitar a vida, valorizar o dia, descobrir as qualidades que possuis, equilibrar os defeitos que tens e sabes que precisas corrigir e ver aqueles que ainda não consegues ver. Aprende com o silêncio a respeitar o teu “eu”, a valorizar o ser humano que és, a respeitar o templo que é o teu corpo, e o Santuário que é a tua vida. Aprende hoje com o silêncio, que ouvir é muito melhor que falar. Aprende então, a ouvir a sua própria voz. Conhecer o ritmo do seu pulso, do seu coração. Aprende com ele a ouvir o fino som das formigas que caminham velozes sobre a mesa, do garfo que toca o prato, dos dentes dilacerando os pedaços da fruta que tens na boca, cortada pelo afiado corte da faca que possui em seu verso letras quase ilegível que diz “Made in Bangladesh”. Aprende com o silêncio a vez o que sempre esteve ali e você nunca tinha visto antes. O silencio nos abre os olhos.

Na natureza tudo acontece com poder e silêncio, com um silêncio poderoso; muitas vezes, o silêncio é confundido com fraqueza, apatia ou indiferença. Pensamos que uma pessoa portadora dessa virtude está impedida de reclamar os seus direitos e deve tolerar com passividade todos os abusos. Mas digo que descobri o contrario. Descobri que é no silêncio que encontramos força. É no silencio e na quietude que encontramos equilíbrio e têmpera. Mas não caia no engano de achar que os silenciosos são grandes sábios e fortes.

Não afirmo que aqueles que são dotados dessa acessível virtude estão mais próximos daquilo que almejam, pois as vezes calam o exterior mais seu interior grita de forma descontrolada por socorro!

Quero aprender o equilíbrio. Encontrar o meu ponto de equilíbrio, para assim, ser capaz de moderar os meus monstros interiores, aqueles que gritam dentro de mim e não me permitem ouvir a voz que me fala ao coração.

Hoje descobri no silêncio uma força incrível. Fiquei me questionando como pode algo tão simples como o “desconhecido” silencio ser capaz de mudar tanta coisa dentro de alguém. Ele funciona como o ar, o oxigênio, penetra nos nossos pulmões, circula discreto pelo nosso corpo, e nem lhe notamos a presença ou poderia compará-lo com a luz, a vida e o espírito, que atuam com a suavidade de uma aparente ausência.

Os fracos não são capazes de calar, pois tem medo de ouvir o que o coração está a dizer. Eles tem medo de que o silêncio lhes revelem quem realmente são. Mas os que buscam a força arriscam-se no tudo, nas profundezas do silêncio para que assim se conheçam e amem cada dia mais.

Assim é Deus! Ele age com tamanha quietude que a maioria de nós nem percebem a sua ação. Ele fala, age, ama, muda e cura na mais perfeita leveza.

O amor é assim sem ruído, sem alarde e sem violência. Ele bate a porta. É um cavalheiro! Bem aventurados os mansos, porque eles possuirão a Terra.

“No silencio eu te encontro

Quando todos se vão

Contigo eu fico, senhor!

Não há nada que eu queira fazer

Do que Te buscar e Te encontrar

Não há nada que eu queira fazer

Do que me prostrar e Te adorar

Meu coração clama por Ti

Meu coração sedento está por Ti”